segunda-feira, 21 de setembro de 2009

SEGUNDA POSTAGEM: LIBRAS

A atividade escolhida para esta postagem é aula presencial de LIBRAS, que ocorreu no dia 09 de setembro e posso dizer que foi uma experiência impar.

Minha atitude já na chegada foi de desespero, logo que percebi que a professora Janaina, responsável por esta disciplina era Surda. Logo imaginei que não conseguiria compreender nada, que teria problemas com os trabalhos e que a noite estava perdida, ao menos para mim!

Segundo Amaral (1994,p.200), o “ Preconceito, nesse sentido, nada mais é que uma atitude favorável ( positiva)ou desfavorável (negativa)anterior a qualquer conhecimento. Estereótipo, por sua vez,é a cristalização de um “tipo”, baseada em em julgamento qualitativo assentado no preconceito e, portanto, anterior à experiência pessoal.”

Mas logo que iniciamos, esta perspectiva catastrófica foi se desfazendo, nas “falas” da professora, que não vinham apenas da boca da interprete, mas das expressões, dos gestos e voz com que Janaina tranquilamente nos falava.

A grande verdade é que nós, ditos “normais” temos grande dificuldade em compreender o diferente. Estamos acostumados e acomodados em nossas habilidades, não nos permitimos experimentar o diferente, não nos arriscamos no desconhecido.

Mas se aprendizagem de fato requer mudança de atitude, posso considerar que sim, tive uma aprendizagem muito significativa. Pois até o final da aula, eu podia compreender muito bem tudo que ela queria dizer. Não aprendi todos os sinais, nem decorei o alfabeto de LIBRAS, mas posso dizer que me permiti ouvir uma forma de linguagem que até aquele dia me era estranha. Não por nunca ter visto, mas por nunca ter tentado compreender.

Tive o prazer de rir de piadas, ouvir histórias, falar sem produzir nenhum tipo de som. E ao utilizar meus olhos para ouvir e meu corpo para falar, percebi que ainda tenho muito para aprender sobre mim, minhas habilidades e minhas formas de comunicação e expressão.

Ver que dentre tantas possibilidades, sou capaz de compreender as outras pessoas apenas se puder ouvi-las e que a única forma de me fazer compreender é através da linguagem oral ou escrita, me fez perceber que não são as deficiências que nos limitam e sim o uso único e irrestrito daquilo que consideramos como nossas melhores habilidades.

Nossa “normalidade” nos restringe, a lógica tão coerente e natural de nossa comunicação nos impede de explorarmos todo potencial latente em nós. Situação que ocorre inversamente nos portadores de alguma deficiência, em especial aqui a surdez, já que eles não contam com a habilidade auditiva, acabam por desenvolver de uma forma extraordinária a percepção visual, a agilidade, a memória, a linguagem corporal e as expressões faciais.

Todo este potencial, apenas prova que se hoje, no Brasil, quase não existem surdos nas universidades, é simplesmente porque as condições de acessibilidade não são adequadas.

“Em se tratando de atender ao aluno com surdez ou deficiência auditiva no Brasil, a realidade aponta para uma só solução: o bilingüismo (Língua Portuguesa e Língua Brasileira de Sinais, a Libras). Há hoje, matriculados no ensino superior, cerca de 300 estudantes surdos“, de acordo com Marlene Gotti, assessora da Secretaria de Educação Especial (Seesp/MEC). Ela destaca que o ”afunilamento“ da população estudantil, na medida em que o grau de estudo aumenta, é mais acentuado entre os surdos (leia abaixo). Ou seja, a ausência de um recurso específico que permita aos alunos com deficiência auditiva o acesso ao aprendizado dificulta ou inviabiliza sua permanência nos bancos escolares. “

Acessibilidade Brasil

Foi muito importante conhecer detalhes sobre a questão da surdez, saber que LIBRAS não se tratam apenas de gestos, mas sim de uma língua oficial, totalmente estruturada, inclusive sofrendo variação não só e um país para outro, como de uma região para outra.

“As Línguas de Sinais (LS) são as línguas naturais das comunidades surdas. Ao contrário do que muitos imaginam, as Línguas de Sinais não são simplesmente mímicas e gestos soltos, utilizados pelos surdos para facilitar a comunicação. São línguas com estruturas gramaticais próprias.

Atribui-se às Línguas de Sinais o status de língua porque elas também são compostas pelos níveis lingüísticos: o fonológico, o morfológico, o sintático e o semântico. O que é denominado de palavra ou item lexical nas línguas oral-auditivas são denominados sinais nas línguas de sinais.

O que diferencia as Línguas de Sinais das demais línguas é a sua modalidade visual-espacial.

Assim, uma pessoa que entra em contato com uma Língua de Sinais irá aprender uma outra língua, como o Francês, Inglês etc.

Os seus usuários podem discutir filosofia ou política e até mesmo produzir poemas e peças teatrais.”

Portal Libras

FONTES DE CONSULTA:

  • Acessibilidade Brasil de 10-03-2005:

http://www.acessobrasil.org.br/index.php?itemid=409

· Portal de Libras: http://www.libras.org.br/libras.php


AMARAL, Lígia Assumpção. Corpo desviante: olhar perplexo. Psicol. USP. [online]. 1994, vol.5, no.1-2 [citado 02 Outubro 2009], p.245-268. Disponível na World Wide Web: . ISSN 1678-5177.

2 comentários:

Catia Zílio disse...

Olá Salete!
Teu relato esta muito rico e sua clareza e detalhamento quase transporta o leitor para a aula presencial do dia 09 de setembro.
Da mesma forma, o embasamento teórico fundamenta tuas reflexões e me levou a pensar sobre a inclusão das libras no Ensino Superior.
Segundo o decreto nº 5.626, DE 22 DE DEZEMBRO DE 2005, artigo 3º:
"A Libras deve ser inserida como disciplina curricular obrigatória nos cursos de formação de professores para o exercício do magistério, em nível médio e superior"
Um questionamento que fica é: Será que um semestre/disciplina é suficiente para aprender LIBRA?
Acredito que não! Mas teu registro traz evidências da importância deste estudo na formação de professores. Parabéns!
Abraços, Cátia

PS. Solicito um pequeno ajuste neste post: acrescente e referência completa da citação de "AMARAL (1992, 9)".

saleteschmidt disse...

Cátia,
Fiz uma citação de citação (apud) e agora, não consegui reencontrá-la, então resolvi pegar este trecho do texto da autora e alterei então a postagem naquele ponto.Espero que não haja problemas nisso, mas caso não possa fazê-lo, por favor, me avise!
atenciosamente,
Salete