terça-feira, 6 de outubro de 2009

TERCEIRA POSTAGEM: LINGUAGEM E EDUCAÇÃO

Para esta terceira postagem, resolvi trazer uma atividade da disciplina de Linguagem e Educação que apresentava a proposta de leitura do texto: Modelos de letramento e as práticas de alfabetização na escola (KLEIMAN, 2006) e a produção de um texto que respondesse a pergunta:

“Por que a autora afirma que a escola, sendo a mais importante agência de letramento, não se preocupa com o letramento social e sim apenas com um tipo de letramento, o escolar?”

Minha escolha apresenta uma aprendizagem que não se inicia, nem tem sua conclusão nesta atividade, mas que por seu efeito, proporcionou-me um grande interesse em ampliar a discussão a cerca da competência escolar na formação da criticidade humana e um olhar mais atento a minha prática, no que se refere às formas de expressão que são peculiares ao meu grupo de alunos e que não estão necessariamente ligadas apenas as questões de faixa etária, mas que representam o modo de vida, a cultura e as experiências de um grupo e a leitura que estas crianças fazem destes elementos.

A escola é um espaço privilegiado de formação humana e de confrontação de idéias, no entanto as políticas educacionais e as práticas educativas não conseguem atingir o necessário grau de criticidade e tecitura reflexiva dos temas que envolvem os alunos em seu cotidiano. Ao contrário, prendem-se muito mais as questões de conteúdos específicos e aos métodos de transmissão destes conteúdos, procurando construir um espaço de consenso, de padrão e por conseqüência, sem lugar para a diversidade de idéias, vivências, culturas, etc.; e toda uma riqueza de elementos que poderiam ser agregados ao conhecimento dito “formal”.

“Talvez seja interessante, de início, problematizarmos a relação existen­te entre linguagem e grupos sociais; para isso, é necessário que se conside­rem as variedades linguísticas, desestabilizando a ideia de "uma" língua pa­drão, como se essa não sofresse alterações socioculturais. Essas variedades manifestam-se tanto na linguagem oral, quanto na escrita. Kato(1987) já dis­cutiu a questão, assinalando que não são modalidades invariantes e que, por­tanto, no interior de cada uma, há uma múltipla variação. Não falamos sem­pre da mesma forma, não escrevemos adotando sempre o mesmo estilo. As condições de produção do discurso - o contexto de uso da linguagem, o lugar do qual falamos, o interlocutor - interferem na seleção do conteúdo (o que dizer) e das estratégias do dizer (como dizer).O discurso sofre controle exter­no e interno dentro de sistemas de apropriação, doutrinas e sociedades de discurso, sendo que as proibições podem ser sobre o assunto a ser explorado, a circunstância de fala, os sujeitos envolvidos, os comentários produzidos e a coerência da nossa identidade como autores, conforme regras aceitas como "verdadeiras" para produzi-los (Foucault, 1998 Apud DALLA ZEN,2002).

O termo LETRAMENTO é muito recente e tem recebido diferentes conceituações. Mas está na MODA e presente em todos os discursos escolares, muitas vezes, sem grande comprometimento com suas implicações sócio-culturais.

Considerando todas as discussões sobre este tema e em especial a atividade referida, com um problema que se apresenta em minha escola hoje, da grande divergência entre iniciar alfabetização na educação infantil e o quanto isso trará de qualidade ao letramento das crianças. Neste sentido, o letramento teria ligação única e exclusiva com a linguagem escrita e sua funcionalidade no ambiente escolar, com vistas à preparação destas crianças para o ingresso na “Escola”.

“Em primeiro lugar, se a fala antecede ou tem prece­dência sobre a escrita, não é senão no sentido em que o discurso oral é o meio e a trama pelo qual todas as constru­ções do propriamente humano são arquitetadas: a própria fala, o sujeito, o outro, o mundo para o sujeito, a fala à maneira da escrita (a fala letrada) e, finalmente, como objeto do/no mundo, a própria escrita em sua materialidade” (ROJO, 2006).

Nossas divergências iniciam-se no fato de que a escola infantil não recebe nem mesmo de seus administradores o status de “escola” e desta forma o processo precoce de alfabetização traria um “ar” de seriedade aos trabalhos desenvolvidos ali. Além disso, se faz necessário separar, ao menos em parte, esta relação que foi colocada de ter de alfabetizar para alcançar o letramento. Por último e talvez a tarefa mais complicada, modificar o modo de ver as atitudes, as expressões e a forma de pensar dos alunos, deixando de tratá-las como algo que precisa, sempre, ser modificado, extinto ou formatado. Pelo contrário, buscando compreender a partir deles, a riqueza e a diversidade da comunidade que também fazemos parte em quanto professores.

É preciso perguntar-se se a escola está inscrita simbolicamente como espaço de acolhida e de pertencimento na vida da comunidade, constituindo-se como um agente legítimo para desencadear esse diálogo. É preciso perguntar-se também em que medida a escola ainda desempenha – e deve de se empenhar – a função de socializar os saberes, as experiências, as cosmovisões, os modos de vida produzidos pela humanidade ao longo de sua história, função que a diferencia de outras instituições sociais. Tais indagações podem introduzir-nos em itinerários de reinvenção da escola e de construção tanto da comunidade de aprendizagem quanto da cidade educadora como espaços nos quais o diálogo, a participação e a cooperação do conjunto de atores sociais sejam características permanentes. Recolocar a escola na cena urbana, tirá-la de um certo lugar de invisibilidade, construir condições para que as novas (e também velhas) gerações (re)aprendem a cidade, na cidade e da cidade e (re)aprendam a conviver colocam-se como possibilidades histórica de nos reinventarmos como sociedade. Ressignificar a escola, colocando-a em rede com a comunidade e a cidade, não significa despi-la de uma tarefa que é eminentemente sua em relação às novas gerações ( Moll,2000).

Vejam que a aprendizagem que lhes apresento hoje é um desafio, uma proposta , ela não está encerrada, mas a considero como aprendizagem, na medida em que me fez ter uma atitude diferente, que desacomodou-nos de uma situação já determinada e vem sendo retomada de forma crescente. Essa proposta de discussão de uma idéia primeiramente imposta, já começa a tomar novo rumo, conseguimos que a SMEC de nosso município, se comprometa em trazer ao município pessoas para palestrar sobre o tema e que dois representantes de cada escola serão indicados para cursos que tratam do currículo da educação infantil e as práticas de letramento neste nível de ensino.

Referencias:

· Rojo, Roxane Helena Rodrigues.”Concepções não-valorizadas da escrita: a escrita como “um outro modo de falar”. 2006(texto disponibilizado pela disciplina de Linguagem e Educação).

· MOLL. Jaqueline. Reinventar a escola dialogando com a comunidade e com a cidade-Novos Itinerários Educativos_Artigo do Jornal Educação_http://www.anj.org.br/jornaleeducacao/biblioteca/artigos/reinventar-a-escola-dialogando-com-a-comunidade-e-com-a-cidade-novos-itinerarios-educativos.

· KLEIMAN, Ângela B. Modelos de letramento e práticas de alfabetização da escola, 2006. In: KLEIMAN.

· ZEN, Maria Isabel Dalla; TRINDADE, lole Faviero. A leitura, a escrita e a oralidade como artefatos culturais. 2002.

Um comentário:

Giselda Correa disse...

Oi Salete... Nessa postagem trazes aspectos bem interessantes para pensarmos sobre a questão do letramento e da prática pedagógica, que deve ser revista para tornar-se mais significativa e contextualizada, a fim de facilitar o aprendizado do aluno. No entanto, consegues lembrar de alguma experiência neste aspecto em sua prática pedagógica? Demonstra reflexão ampla, articulada e enriquecida com o material proposto pela interdisciplina. Abração pra ti.Gi