domingo, 18 de outubro de 2009

QUARTA POSTAGEM - DIDÁTICA

A quarta atividade que trago, foi realizada para disciplina de Didática, Planejamento e Avaliação, onde deveríamos ler o fragmento de Hilton Japiassu que nos fala da compartimentalização dos saberes e da importância do trabalho integrado, e conciliá-lo com o texto de Santomé (1998):As Origens da Modalidade de Currículo Integrado, para produzirmos um texto onde pudéssemos relacionar a “fragmentação dos processos de produção (Taylorismo & Fordismo) e a cultura escolar”, avaliando a relação entre as novas necessidades das economias de produção flexível com o sistema escolar.

Considerei esta atividade como um ponto de convergência entre os estudos realizados até o momento nesta e nas demais disciplinas do semestre, onde nos oferece além de um panorama histórico dos “porquês” escolares, propicia também o entendimento claro da forma como ocorre a capilarização dos sistemas econômicos e dos meios de produção em todos os segmentos da sociedade, influenciando os costumes, as culturas, os saberes e as necessidades das pessoas. O desenvolvimento das regras econômicas de uma sociedade determina a forma de pensar e de se organizar de seus membros, ainda que este se de pelo senso comum.

“O modelo autônomo tem o agravante de atribuir o fracasso e a responsabilidade por esse fracasso ao indiví­duo que pertence ao grande grupo dos pobres e margina­lizados nas sociedades tecnológicas (Gee, 1990; cf. Ratto, neste volume). É comum a percepção do problema em termos individuais, contraditórios à realidade social, nas avaliações dos analfabetos eventualmente citados no jor­nal: assim, uma analfabeta paraibana, estado onde mais de 50% da população é analfabeta, atribui primeiro aos seus pais essa responsabilidade ao relatar que "nunca frequentou a escola quando criança 'por causa da igno­rância dos pais"' e logo culpa-se a si mesma por ter desistido da escola quando adulta. Apesar do relato que faz das condições em que tentou estudar ("as aulas eram à noite e ela dormia, cansada do trabalho de faxineira que tinha de dia"), ela afirma: "Isso foi há 15 anos. Hoje eu me arrependo de não ter continuado para aprender mais (KLEIMAN, 2006)."

A problemática desta situação ocorre no sentido de que na maioria dos casos, temos uma visão ingênua desta relação, o que nos impede de analisarmos criticamente a função social da escola e de seus elementos curriculares e de avaliarmos se este modelo educacional está trabalhando no sentido de promover a mobilidade social das classes populares ou esta fragmentação do saber, simplesmente nos trará condições de suprir as necessidades funcionais do mercado econômico.

Japiassu (1994) diz que: ”Em nosso sistema escolar, “ensina-se um saber fragmentado, que constitui um fator de cegueira intelectual, que decreta a morte da vida e que revela uma razão irracional. A ponto de o especialista não saber nem mesmo aquilo que acredita saber. Essas “ilhas” epistemológicas, dogmática e criticamente ensinadas, são ciumentamente mantidas por estes reservatórios ou silos de saber, que são as instituições de ensino, muito mais preocupadas com a distribuição de suas fatias de saber, de uma ração intelectual a alunos que não têm fome. (...).”

Acredito que nesta atividade, consegui perceber um detalhe importante sobre as novas tendências de gestão e organização escolar, que até então me pareciam provenientes da evolução dos sistemas de ensino e das lutas sociais em favor da democratização dos saberes.

“Penso que numerosas propostas pedagógicas que estão sendo divulgadas por instâncias ministeriais pertencentes ao próprio Governo, que atualmente também está contribuindo com a flexibilização dos mercados de trabalho, adquirem sentido se levarmos em consideração esta interdependência entre a esfera econômica e a educacional. Conceitos e propostas como as de "descentralização", "autonomia dos centros escolares”, “flexibilidade dos programas escolares", "liberdade de escolha de instituições docentes", etc., têm sua correspondência na descentralização das grandes corporações industriais, na autonomia relativa de cada fábrica, na flexibilidade de organização para ajustar-se à variabilidade de mercados e consumidores, nas estratégias de melhora de produtividade baseada nos círculos de qualidade, na avaliação e supervisão central para controlar a validade e o cumprimento dos grandes objetivos da empresa, etc.” (Santomé, 1998).

É claro que sempre tive consciência de que os saberes escolares são espelhados nas necessidades do mercado econômico, o que considero de certa forma natural e necessário.

“Os novos modelos de produção industrial, sua dependência das mudanças de ritmo nas modas e necessidades preferidas pelos consumidores e consumidoras, as estratégias de competitividade e de melhora da qualidade nas empresas, exigem das instituições escolares compromissos para formar pessoas com conhecimentos, destrezas, procedimentos e valores de acordo com esta nova filosofia econômica.” Santomé (1998)

No entanto, nossa formação não pode e nem deve estar unicamente ligada ao mundo do trabalho e dos meios de produção ou em sua função. Santomé (1998, p.187apud Xavier) afirma que a utilidade social do currículo está em permitir aos alunos e alunas compreender a sociedade em que vivem, favorecendo, para tal, o desenvolvimento de aptidões, tanto técnicas como sociais, que os ajudem em sua localização na comunidade de forma autônoma, crítica e solidária.Mas estas novas possibilidades que se descortinam na educação, não garantem um compromisso real com a democratização da educação e com ações de equalização das condições sócio-culturais das classes populares, pois conforme Santomé (1998):

“Não podemos esquecer que qualquer sistema de indicadores é fruto de uma determinada ideologia; traduz os resultados que cabe esperar das instituições escolares a partir de uma concepção de valores específica (...)”

Neste sentido, precisamos estar atentos, para que nossa ansiosa busca de condições reais e dignas de educação, qualidade no ensino, flexibilização curricular e conseqüentemente melhor qualidade de vida e melhor formação profissional para nossos alunos e alunas, nos faça aliados de uma nova ou maquiada pedagogia reducionista.

“(...) a qualidade dos processos educacionais é impossível sem o compromisso dos professores. Mas, no fundo, talvez pretenda-se apenas circunscrever o âmbito do que pode ser pensado por professores, professoras e estudantes às dimensões metodológicas e de organização das instituições escolares, mas não à análise crítica dos conteúdos e finalidades dos níveis educacionais e, em geral, do sistema escolar.” (Santomé, 1998).


"LINK DA ATIVIDADE REFERIDA"


Referências:

· SANTOMÉ, Jurjo Torres. As origens da modalidade de currículo integrado In:______. Globalização e interdisciplinaridade: o currículo integrado. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998, p.9-23.

· JAPIASSU, Hilton. A questão da interdisciplinaridade. Revista Paixão de Aprender. Secretaria Municipal de Educação, novembro, n°8, p. 48-55, 1994.

· XAVIER, Maria Luisa Merino. Introduzindo a questão do planejamento: globalização, interdisciplinaridade e integração curricular. 3ª edição. Porto Alegre: Mediação, 2003. p.10-14.

· ------KLEIMAN, Ângela B. Modelos de letramento e práticas de alfabetização da escola, 2006. In: KLEIMAN.

· GIROUX, Henry. Alfabetização e a pedagogia do empowerment político. In: FREIRE, Paulo e MACEDO, Donaldo. Alfabetização: leitura da palavra, leitura do mundo. 3. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990. p. 1-27.

Um comentário:

Unknown disse...

Querida Salete,
Seu trabalho apresenta uma boa qualidade, mas precisa aprofundar mais suas reflexões sobre o seu processo de aprendizagem. Suas reflexões estão boas, porém, necessitam que você apresente mais evidências e as aprofunde.
Bjs,
Jaque Picetti