terça-feira, 27 de abril de 2010

QUARTA POSTAGEM

“A meta da vida não é a perfeição, mas o eterno processo de aperfeiçoamento, amadurecimento, refinamento.”

JOHN DEWEY

Enfim o estágio!

Sete semestres se passaram, muita coisa foi vista, algumas me tocaram fortemente. A importância da formação docente, os diferentes métodos, as arquiteturas pedagógicas, o currículo integrado, a gestão democrática e tantas outras que poderia passar uma noite escrevendo. Mas agora, é momento de testar aprendizagens, de confirmar posições e pensamentos, de levar à prática o discurso.

“A força do educador democrata está na sua coerência exemplar, é ela que sustenta sua Autoridade. Portanto, o educador que diz uma coisa e faz outra é eticamente irresponsável, ineficaz e prejudicial”. (FREIRE, apud BARROS, 2008).

E é exatamente nesse momento que descubro ser o período de estágio um momento a parte em minha vida, mesmo sendo realizado em minha turma, parece se localizar em outro tempo e espaço, uma dimensão estranha, onde coisas cotidianas me provocam nervosismo, onde os imprevistos tomam proporções de catastrofe.

Não que eu seja o tipo de professora que defende a rigidez dos planos de aula, ou que precise ter sempre tudo preso as minhas mãos. Ao contrário, tudo que sempre busquei, foram condições de trabalhar com organização, qualidade, flexibilidade, propiciando um ambiente acolhedor, democrático, que promova autonomia dos alunos, etc.

Mas no ESTÁGIO?!

Tudo que queremos é fazer um planejamento “redondinho”, sem espaço para perguntas ou dúvidas, ainda que saibamos que é extamente daí que surgem as idéias, as aprendizagens, a evolução!

Segundo CARRASCO, não se pode desconsiderar que o ser humano, apesar de possuir um ímpeto criador e viver em constante busca, muitas vezes, mostra-se apático, acomodado e resignado a uma determinada situação.

Consigo compreender agora, o porquê de tantos educadores com planejamentos antigos, surrados, amarelados e ainda em uso. A mudança é necessária, é boa, é importante, mas provoca agitação, algumas vezes desconforto e quase todo tempo, insegurança.

Se não for isso!! Como será aquilo? Não é melhor ficar quieto? “PARADO” e deixar que a escola siga seu curso “NATURAL”?

Certezas múltiplas protegem nossas tranqüilidades profissionais. Vêm do cotidia­no. Dão a segurança necessária para repetir ano após ano nosso papel. São os d euses que protegem a escola e nos protegem. Não constam em tratados de pedagogia, nem nos regulamentos, nem nos frontispícios das escolas. São certeza que não se discutem, tão ocultas no mais íntimo de cada mestre. Não afloram. Tão inúmeras que não dá para contá-las nas pesquisas. São nossas certezas. Garantem velhas m udanças. Com um termo mais na moda diríamos que essas certezas são a cultura escolar, a cultura profissional. São nossas crenças e nossos valores. Não se discutem se praticam com fiel religiosidade (Arroyo,2000).

E nessas condições, nada mais resta que de fato assumir a condição de aprendiz, sempre! Já que tenho buscado construir saberes que sirvam não apenas a professora Salete ou a aluna, mas a cidadã, a mulher, a mãe, a filha e todos os outros papéis que venho acumulando em minha existência e que são responsáveis por esta Salete, insegura, cheia de dúvidas, mas disposta a não negar este desejo de manter-me em movimento.

Segundo TARDIF(2000), os saberes que servem de base para o ensino são, a um só tempo, existenciais, sociais e pragmáticos:

São existenciais, no sentido de que um professor “não pensa somente com a cabeça”, mas “com a vida”, com o que foi, com o que viveu, com aquilo que acumulou em termos de experiência de vida, em termos de lastro de certezas. Em suma, ele pensa a partir de sua história de vida não somente intelectual, no sentido rigoroso do termo, mas também emocional, afetiva, pessoal e interpessoal. Desse ponto de vista, convém ultrapassar a visão epistemológica canônica do “sujeito e do objeto”, se quisermos compreen­der os saberes do professor. O professor não é somente um “sujeito epis­têmico” que se coloca diante do mundo em uma relação estrita de conhe­cimento, que “processa” informações extraídas do “objeto” (um contexto, uma situação, pessoas etc.) através de seu sistema cognitivo, indo buscar, por exemplo, em sua memória, esquemas, procedimentos, representações a partir dos quais organiza as novas informações. Ele é um “sujeito existencial” no sentido forte da tradição fenomenológica e hermenêutica, isto é, um “ser­no-mundo”, um Dasein (Heidegger 1927), uma pessoa completa, com seu corpo, suas emoções, sua linguagem, seu relacionamento com os outros e consigo mesmo. Ele é uma pessoa comprometida em e por sua própria história – pessoal, familiar, escolar, social – que lhe proporciona um lastro de certezas a partir das quais ele compreende e interpreta as novas situações que o afetam e constrói, por meio de suas próprias ações, a continuação de sua história.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS:

· TARDIF, Maurice; RAYMOND, Danielle. Saberes, Tempo e Aprendizagem do Trabalho no Magistério. Educação e Sociedade. Campinas: CEDES. V. 21, n. 73, dez. 2000.

· BARROS, Talma Bastos. Síntese: Ética, Estética e Educação: A Ótica de Paulo Freire. Publicado 22/10/2008. Disponível em<http://www.webartigos.com/articles/10398/1/Sintese-Etica-Estetica-e-Educacao-A-Otica-de-Paulo-Freire/pagina1.html>

· ARROYO, Miguel G. Ofício de Mestre: Imagens e Auto-Imagens. 2.ed. Petrópolis, RJ. Vozes, 2000.

· CARRASCO, Lucia Helena. O DESPERTAR. Texto PEAD. Disponível em <>.

Um comentário:

Catia Zílio disse...

Salete!
Ao ler esta tua reflexão sobre a tua caminhada no PEAD leibrei do relato de uma profª da Educação Infantil e gostaria de compartilhar contigo:
As crianças me perguntaram se ela sente dor enquanto se transforma em borboleta. Não achei a informação correta, mas respondi a elas o que sabia: todo processo de transformação costuma ser dolorido, e quanto maior a mudança, maior a dor e maior o prazer depois de terminado. E olha que não existe mudança maior do que, de uma lagarta, um bicho rastejante, curioso, lento e pesado, virar uma borboleta, tão leve, tão bonita, tão… Tão.
http://blog.mafaldacrescida.com.br/?p=195
Também sugiro a leitura do texto disponível em: http://www.febe.edu.br/04_proeng/formacao_continuada/2008_2/material_palestras/porque_somos_tao_tristes.pdf.
Abraços, Cátia