sexta-feira, 25 de junho de 2010

OITAVA POSTAGEM

Em menos de três anos, a escola em que trabalho teve 4 gestores. Sendo que três destas, nos últimos dez meses. Para piorar o quadro, a segunda gestora, foi retirada do cargo única e exclusivamente por questões político partidárias, já que houve troca na administração municipal. Estas mudanças trouxeram grande confusão, conflitos internos, exposição do grupo a situações de abuso e perseguições, perda de profissionais e de qualidade do e no ambiente escolar.

Esta realidade vivida no trabalho me faz pensar que tão importante quanto debater quesões pedagógicas, de métodos, aprendizagem e outros, se apresenta a necessidade de debater-se a gestão escolar e o papel da direção escolar enquanto detentora do controle sobre os instrumentos e processos técnico-administrativos da instituição, discutindo o quanto estes elementos estão voltados para o real interesse do trabalho docente, da qualidade do ensino e da democratização escolar.

É claro que não se discute a complexidade das questões administrativas escolares e a necessidade do cumprimento burocrático de inumeras regras e muitos outros quesitos de caráter técnico e legal, que fogem a vontade dos gestores. No entanto, estes processos não devem minimizar a importância e a responsabilidade também sobre os de caráter técnico-pedagógicos e humanos que coexistem no espaço escolar e que através de políticas administrativas patrimonialistas ou pseudo-democratas, espalham e perpetuam o medo, a intransigência, o desconforto e o abandono crescente de direitos humanos e trabalhistas em função da “paz” no trabalho.

Bourdieu (1998; 2003) afirma que o poder se exerce em relações cotidianas, em ações, em gestos, na linguagem, com o intuito de dominar essas mesmas relações.

Sabe-se que indicar a direção de uma escola é estender os olhos, ouvidos e interesses da administração e do responsável pela indicação para dentro desta escola, o que fatalmente o torna um cargo político de confiança, devendo cumprir com acordos e práticas patrimonialistas para manter o mesmo, ao passo que toda e qualquer oposição a estas práticas são vistas como problemas a serem eliminados.

“... a capacidade de decidir sobre a própria vida: como tal, é um fato que transcende o indivíduo e se plasma nos sujeitos e nos espaços sociais: aí se materializa como afirmação, como satisfação de objetivos (...). Mas o poder consiste também na capacidade de decidir sobre a vida do outro, na intervenção com fatos que obrigam, circunscrevem ou impedem. Quem exerce o poder se arroga o direito ao castigo e a postergar bens materiais e simbólicos. Dessa posição domina, julga, sentencia e perdoa. Ao fazê-lo, acumula e reproduz o poder”. (LAGARDE, 1993)”

A questão emergente e urgente desta discussão é fazer com que se busque maior conhecimento dos direitos e deveres dos gestores e demais funcionários escolares, que se traga a debate a necessidade da democratização da escola e dos meios de atingir tal democratização. Isso, só vem através da busca de um conhecimento, que também faz parte dos saberes necessários a profissão docente. Até mesmo, por que, na maioria dos casos, os diretores e diretoras de escolas, são professores, o que não os impede de esquecerem-se de históricas lutas de classe contra a dominação e os desmandos no ambiente escolar.

“ A lógica opressor e oprimido sempre vai existir, mas é necessário um trabalho educativo do oprimido sobre o opressor, para que este, ao participar das decisões do poder ou tomar o poder em si, não utilize os mesmos instrumentos totalitários e repressivos dos quais foi vítima um dia (Freire, 2003).”

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS:

· GIROUX, Henry. Alfabetização e a pedagogia do empowerment político. In: FREIRE, Paulo e MACEDO, Donaldo. Alfabetização: leitura da palavra, leitura do mundo. 3. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990. p. 1-27.

· BATISTA, Neusa Chaves (2002). Democracia e Patrimonialismo: dois princípios em confronto na gestão da escola pública municipal de Porto Alegre. POA/UFRGS/PPGS (Dissertação de Mestrado)

· LUCE, Maria Beatriz; MEDEIROS, Isabel Letícia Pedroso de. Gestão Democrática da e na Educação: concepções e vivências. In: LUCE, Maria Beatriz; MEDEIROS, Isabel Letícia Pedroso de Gestão Escolar Democrática: concepções e vivências. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2006.

· Cavalcanti, Prof. Dra. Paula Arcoverde . Gestão pública e Gênero, UNEB. Encontrado em:

http://www.google.com.br/search?hl=pt- &q=…o+poder+consiste+também+na+capacidade+de+decidir+sobre+a+vida+do+outro,+na+intervenção+com+fatos+que+obrigam,+circunscrevem+ou+impedem.+&btnG=Pesquisar&aq=f&aqi=&aql=&oq=&gs_rfai=

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